segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O luto pela identidade de uma pessoa querida.

Aquilo que parecia ouro, percebendo-se brilhando e sendo adorado, tomou para si o papel de Deus. Deus, digno de ser amado sobre todas as coisas, acabou assim sendo esquecido. O eu tomou conta do coração criado, colocando-se  no lugar daquilo que era eterno, puro e constante amor. Ficou em grande parte a imperfeição, que por não saber amar, amou a si mesma, subvertendo o que de mais belo havia em si, o desejo de amar.
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Como é doloroso sofrer pelos outros, e como é mais doloroso ainda querer que os outros amem a si próprio e aos outros.

Acho que sempre eu sempre soube a importância da busca por um sentido de viver. Porém, apenas após convertido soube que o único e consistente sentido seria aquele que nos movesse a amar o próximo com todo o coração, a ponto de nos darmos por ele. Parto dessa reflexão, para prosseguir o texto.

A humanidade não nos oferece esperança, não nos oferece conforto e não nos oferece amor. Oferece sim, oportunidade para amar, para confortar e para dar esperança a ela. E como é sofrido e doloroso, que chega a romper meu coração como nunca antes havia acontecido, perceber que assim como se chega nesse caminho, se sai dele.

Não sou santo, muito pelo contrário, peco diariamente e aos montes -  Deus, me perdoe por isso - mas justamente porque erro constantemente é que busco, infelizmente não tanto quanto gostaria, fazer a tão famosa e cristã 'revisão de consciência'. Consiste, resumidamente, em fazer uma análise sobre aonde anda nossos pensamentos a fim de direcioná-los novamente às dores da humanidade. E quão doloroso é conseguir perceber os tombos daqueles que tentavam sistematicamente, até pouco tempo atrás, te levantar e olhar o mundo daqui de cima, onde tudo é dor e lamento, e ao invés de se lamentar junto aos outros, amá-los entregando-se completamente, de corpo e alma, ao socorro daqueles que precisam, sofrendo o quanto for necessário para isso.

Os olhos não expressam a dor ou sofrimento, esses se escondem no fundo da alma e são inalcançáveis à percepção humana. O que os olhos expressam é a falta de força para seguir em frente, falta de sentido verdadeiro para se viver. Todos sofremos angustiadamente, e se isso não estiver sempre presente em nossa consciência de modo permanente, incrivelmente, chega-se a acreditar que existam pessoas anestesiadas.

Lamento muito por ver o amor sumir dos olhos de quem já amou o mundo inteiro a ponto de oferecer a própria vida. Lamento por ver que há alguém que, tendo amado, escolheu não amar. Também lamento e sofro por aqueles que perderam o socorro, que estava sempre próximo personificado neste alguém. Lamento também pelos seus amigos, que tenho certeza, sofrem uma agonia de ter perdido alguém sorridente e feliz, com uma imensa disposição de ajudar, e imenso carinho no acolher.

Os sorrisos não são mais os mesmos, os abraços já não fazem sentido. Confiro que do tudo pode vir a acontecer o nada, e do nada, o tudo. O ser humano não é confiável por natureza, se confiamos nele é porque acreditamos em qualquer coisa que seja maior do que ele próprio. Os sorrisos que tantas vezes alegravam-me noite e dia, em pensamento e em verdade, agora não vêm mais dela, a pessoa querida e amada. Buscar em algo eterno e imutável, tudo aquilo que precisamos, é o caminho mais lúcido.
Posso amar com todo coração, e ainda assim não será suficiente para ser amado de volta.
Continuo amando, agora em Cristo, na esperança de tê-la de volta.

Percebo: pessoas ainda amam. Algumas sabem o que amar. Pelas outras, orações incessantes, como pediu Jesus.